Pedro Vargas: "Esta é a equipa portuguesa melhor preparada e mais competitiva de sempre"
O selecionador e capitão da selecção mista portuguesa faz o balanço dos últimos meses de preparação e antecipa a participação de Portugal no Mundial do Dubai, entre os dias 8 e 13 de março.
Qual o balanço destes meses de preparação da equipa mista de Portugal?
É um balanço muito positivo. Este período de preparação durou sensivelmente dez meses, mas, na realidade, concentrou-se fundamentalmente neste último meio ano. Houve um crescimento evidente de qualidade individual de praticamente todos os elementos que foram seleccionados para esta equipa. Não só isso mas também a construção e integração de um modelo de jogo ao qual os jogadores, apesar de alguma dificuldade ao início, se ajustaram. De uma forma geral, creio que o grande objectivo desta preparação foi atingido: proporcionar a este grupo a oportunidade de crescer tanto a nível desportivo mas também a nível pessoal. Sinto claramente que neste momento Portugal tem pelo menos 15 jogadores mais fortes do que o que tinha há dez meses e espero sinceramente que estes tenham a capacidade de transmitir ao seus colegas de clube tudo aquilo que apreenderam durante este período. Se assim for, teremos não só desenvolvimento ao nível da selecção mas também ao nível dos clubes.
Com que expectativas parte Portugal para o Dubai? Mudaram relativamente ao início desta preparação?
As expectativas são sensivelmente as mesmas que definimos em Setembro. Primeiro, construir uma equipa e fomentar o crescimento dos jogadores, o que, na minha óptica, já foi alcançado, mas queremos potenciar isso ainda durante o torneio. Segundo, competir de igual para igual com as melhores selecções do mundo, tendo como objectivo concreto chegar aos quartos de final do campeonato. Pode parecer estranho, conhecendo o que nos precede em termos históricos, com três semi-finais consecutivas em campeonatos da Europa e do Mundo, mas a verdade é que apesar de esta ser sem dúvida a equipa portuguesa melhor preparada e mais competitiva de sempre, também é verdade que a concorrência não fica atrás. Realisticamente, partimos para esta competição com a noção clara que, independentemente do nível de jogo que pratiquemos, poderemos facilmente lutar por uma medalha ou, ao mesmo tempo, nem passar do meio da tabela. Tudo se vai decidir em detalhes.
Qual a importância das vitórias da selecção nos torneios de Monte Gordo e MOW, frente à Alemanha?
Pessoalmente não valorizo muito esses resultados. Foram bons jogos, acima de tudo para avaliar o trabalho feito e o que ainda seria necessário trabalhar. E apesar de estarmos a falar dos vice-campeões do mundo em título e terceiros classificados nos últimos Europeus, fiquei com a clara sensação que em nenhum dos jogos jogámos o nosso melhor. Obviamente que terminar esta preparação tendo vencido dois torneios, jogando de forma consistente contra adversários directos, e mesmo quando não jogámos ao nosso nível, termos conseguido vencer, dá-nos alguma confiança para enfrentar o Campeonato do Mundo. No entanto, estamos cientes que estas vitórias nada representam, e que no Dubai estaremos dependentes acima de tudo de nós e da qualidade de jogo que consigamos produzir.
O que esperar dos nossos adversários no Mundial?
Pelo que já dei a entender, perspectiva-se um campeonato muito dividido. Creio que para lá dos EUA, que todos esperam que esteja na final e que eventualmente vença, existe um conjunto de 9-10 equipas com capacidade de lutar por uma medalha. Para além de nós, teremos certamente o Canadá, a Suécia (actual campeã da Europa), Irlanda (vice-campeões da Europa), Alemanha, Filipinas, Austrália (terceiros classificados no último mundial, tendo vencido o jogo de atribuição da medalha contra Portugal), Holanda, Japão e Rússia como legítimos concorrentes a uma medalha.
Até que ponto esta participação pode ser importante, para lá da participação em si num mundial, para o ultimate nacional?
Reforço o que disse antes. Basicamente, conseguimos potenciar o crescimento de uma fatia importante de jogadores nacionais. Para além do valor e conhecimento que se espera que estes jogadores emprestem às suas equipas de origem, no final deste ciclo espera-se tambem que o sucesso e evolução destes jogadores sirva de inspiração para outros se dedicarem ao treino de forma tão abnegada como este grupo fez. Simultaneamente, este projecto envolveu numa fase inicial a realização de uma série de eventos de treino e aprendizagem, que para além de visarem a posterior selecção do grupo de atletas final, possibilitou também a exposição de um grupo alargado de indivíduos a uma série de conceitos e actividades de treino, que esperamos tenham sido significativas para o crescimento global dos jogadores a nível nacional. Finalmente, seria importante que a modalidade saísse reforçada deste mundial e claro que isso depende do resultado desportivo. No entanto, acima de tudo seria importante que este evento fosse encarado como uma oportunidade de, através dos diferentes canais de comunicação, se conseguir chegar com visibilidade a uma fatia maior da população portuguesa e assim potenciar o crescimento da modalidade no nosso país